terça-feira, 2 de março de 2010

À QUEM NÃO SABE PARA QUE SERVE A CIÊNCIA

Findava o ano de 1832 quando o físico inglês Michael Faraday apresentou à Rainha Vitória uma das suas experiências com corrente elétrica, espiras e ímãs. Na presença da Rainha o cientista mostrou como o imã girava sobre um eixo quando era envolvido por espiras de fios metálicos por onde passava uma corrente elétrica. Sem ver o alcance daquela coisa e sem o interesse comercial que lhe suscitava a obsessão, a Rainha perguntou a Faraday, de forma inopinada: “Para que serve isso?”. Sem temer a perda do pescoço e talvez assolado pelo desprezo ao seu invento, Farday respondeu “Majestade, para que serve uma criança quando nasce?”. A ciência cresceu desmesuradamente e é hoje uma grande arvore com muitos galhos e muitas folhas. Mesmo assim muitos não entenderam, ainda, para que serve a Ciência, como no caso da Rainha Vitória. Muitos se colocam pior que a Rainha Vitória, com a visão prefixada em objetivos pequenos e mesquinhos. Muitas foram as teorias criadas antes que se encontrassem suas aplicações na prática. Muitos se colocam dentro dos gabinetes achando que a ciência apreendida nos compêndios deverá permanecer sentada na escuridão das suas mentes, no recanto estreito das suas salas, no murmurinho mesquinho dos seus sorrisos sarcásticos. Para esses falsos cientistas é necessário dizer que a ciência não pode ser dissociada do desenvolvimento, que sem o objetivo de ir à busca do bem estar da humanidade, não há qualquer significado para tantas hipóteses, para tanto sacrifício no passado dos que construíram esse grande edifício. A ciência deve ser a maior protagonista do desenvolvimento e deve se adiantar no enfrentamento das situações em que as condições da natureza deixam o homem em desvantagem. No início pareciam aplicar-se a somente poucos casos particulares até que se encontrassem suas generalizações. Assim foi o caso da Teoria da Relatividade, assim foi com a Teoria Quântica que é hoje o principal propulsor da ciência de ponta no entendimento do comportamento da matéria e nos seus diferentes estágios de transformação. Na prática, no dia a dia, a ciência necessita intervir para erradicar a pobreza e melhorar a condição de vida das populações desassistidas e relegadas aos estados de confronto direto com os ataques da natureza danosa. Sob esse ponto de vista, a situação ambiental deverá ser melhor compreendida em benefício do povo. Não é possível exigir 500 páginas de papel com informações absurdas e esdrúxulas querendo entender situações geográficas e ambientais que não lhes são conhecidas. Não é possível que um técnico não saiba distinguir o que é prejudicial ao meio ambiente quando se quer sanear uma vala em uma cidade do interior. Não é possível que esses quasímodos da ciência, alegando as exigências das leis, condenem as populações a continuarem no estado de indefesas libélulas. Isso é o que está acontecendo com as licenças obrigatórias para o início de obras do PAC e de implantações de novas indústrias. A imensa quantidade de papel acumulada nas prateleiras das Secretarias de Meio Ambiente, nas prateleiras do Ibama e outras repartições afins somente servirão para as traças. Noventa por cento das informações ali contidas servirão para absolutamente nada e poderão ser substituídas por relatórios de dez páginas. Recentemente li exigência do tipo “exame tri-axial do solo da provável jazida que servirá para o aterro” ou do tipo “coordenadas UTM das estacas de metro em metro de um muro de arrimo”. Essas informações, para quem sabe o que são durante a análise de um projeto, deveria ir para o rolo do banheiro, porque só para isso podem ser usadas. Ciências de gabinete, sem benefícios ao homem, não servem para absolutamente nada e deveriam ser oferecidas ao incendiário imperador Nero. È necessário que se deixe de lado o orgulho pessoal, as visões pessoais e opiniões pré-estabelecidas em beneficio do desenvolvimento e da melhoria da condição de vida das populações. Nossos cientistas do ambiente estão como a Rainha Vitória? Então precisam saber para que serve a ciência.


Nagib Charone Filho
nagibcharone@yahoo.com.br

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